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CAMALEÕES

 17 ANOS

"... para tia de Camaleões!" (silêncio) " ... C-camaleões?"

 

Arrepiou-me, confesso, um misto de excitação, expectativa e ansiedade que senti como um aperto na garganta. Tendo animado mosquitos, aranhiços e melgas, os Camaleões apareciam-me grandes demais, crescidos demais. Quem seria o Camaleão? Sabia que teria entre 16 e 17 anos mas, no fundo, que idade é essa? A idade que ainda se pendura numa cruzeta no armário ou aquela que já espreita o mundo, lá fora? O que esperaria ele de um campo? Como seria que se animava um Camaleão? O que pediria Deus aos animadores? Foram muitas as perguntas, mas a resposta, só uma - um camaleão é um camaleão. Em mudança. Em passagem de esboço para desenho de traço firme. A experimentar várias cores e a escolher a sua. A adaptar-se ao mundo e olhar com grandes olhos para o que o rodeia, procurando captar tudo o que pode. Só não é um verdadeiro bicho camaleão porque não é passivo mas antes activo. Pro-activo. O Camaleão procura, indaga, mergulha.

 

Ele vive naquele limbo entre a adolescência despreocupada e a exigência adulta de ter de tomar decisões, de começar a aprender a jogar com os valores da liberdade e da responsabilidade. Tem todos os sentidos despertos para se ir experimentando e ir experimentando o mundo. Para ir questionando profundamente a fé, a sua relação com Deus (que acompanha o limbo em que vive), a sua vivência em Igreja, a sua missão como Cristão. O camaleão descobre-se, (re)desenha-se, define-se, na fé, em Deus, com os outros.

 

Vai para o campo com a inocência e a curiosidade do mosquito, a malandrice e a energia do aranhiço, com a ousadia e a exigência do melga, o deslumbramento e a entrega do tremelga,.. no fundo, com a alma do camaleão, cheia de tudo isso. E sempre a precisar muito de mimos e bolachas!

 

Leonor Melo

 

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