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ARANHIÇOS

DOS 11-12 ANOS

"Ai mas dói-me o dedo, fiz uma ferida, ela bateu-me e ele colou-me uma formiga;

não quero andar mais, está muito sol, não posso comer já o 2º pão se este está mole?

Podemos ir já para o banho, e ficar até ter rugas?

E apanhar aquele gafanhoto, pôr no bolso e mostrar às raparigas?

Aposto que é hoje, a Noite do Terror, “o meu irmão disse-me” que até fingem ter dor;

já canto umas músicas, a ler a camtilena, e vou aprender a fazer o Sol na viola da Madalena.

Não gosto de ervilhas, posso comer só as salsichas?

Pode jogar rugby e falar francês, ou saltar no trampolim se cantar só uma vez: Posso? Posso?”

 

É quase como um concerto num café do Chiado, mas é assim que conto como a história se tornou lenda para mim: andava à toa na vida e levei com a pata de um aranhiço. Imagine-se, que descabimento! Mas quando ia a agarrar numa cenoura para me vingar, riu-se de troça e explicou-me que era inútil porque tinha raios ultra-laser e um escudo invisível que o protegia. Até de cenouras? Olha que esta, eu não sabia! Mas foi assim que o aranhiço me ensinou a brincar, e já não voltei a esquecer aquela lenga-lenga. Por isso, quis ficar e conhecê-los melhor, aprender que, em bando, goza, diz segredos, e mete bacalhau no ouvido quando eu viro as costas. Mas quando eles viram, vem, abraça, chora, fala coisa bonita e quer aprender a voar. No fundo, no fundo… têm uma energia inesgotável, e ninguém sabe como são os primeiros a acordar, mas os últimos a chegar ao pequeno-almoço. Nem como nas conversas à noite na tenda “ninguém pode ouvir”. É apenas isto, um aranhiço: simples que nem bicheza de perna longa. E tem pinta, lá pelo meio. Mas no dia em que aprender a voar, quero ter uma perna longa assim! Posso ser um aranhiço, posso, posso?

 

Maria Fernandes

 

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